Posts Tagged 'História & Cultura'

Imagem do dia #128

 

Durban (em Língua zulu eThekwini) é uma cidade da África do Sul, na Província de KwaZulu-Natal, na costa do Oceano Índico. Tem cerca de 2.7 milhões de habitantes (4 milhões na área metropolitana). É a segunda cidade do país em número de habitantes (a primeira é Joanesburgo). A língua mais falada é o Zulu, seguida pelo Inglês, o Afrikaans e o Hindi.

A cidade perdeu muito do estatuto de destino internacional de férias durante a década de 90 do século XX, sendo substituída pela Cidade do Cabo. Contudo, Durban tem o maior porto de toda a África e aloja o maior terminal de contentores de todo o Hemisfério Sul.

Durban é, igualmente, a maior cidade da Província de KwaZulu-Natal. O nome da província tem duas origens. KwaZulu significa em Língua Zulu “A terra dos Zulus”. A Zululand é uma região natural de onde é originário o povo Zulu. O termo Natal provém da História. Oficialmente, Vasco da Gama aportou na costa desta região no dia 25 de Dezembro de 1497, um ano antes da sua chegada à Índia. Este território passou então a ser denominado Natal. O mesmo aconteceu durante o período de colonização britânica e durante o Apartheid. Desde 1994, ano das primeiras eleições livres na África do Sul, a denominação oficial da Província é KwaZulu-Natal. 

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Uma loja perdida no meio do mato em Chongoene, Província de Gaza.

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Quando Vasco da Gama atracou nestas águas, Janeiro de 1498, chamou a este território “Terra da Boa Gente”.

Hoje em dia, Inhambane é uma das maiores atracções turísticas do sul de Moçambique. Junto à cidade, protegida por uma enorme baía com o mesmo nome, situam-se as praias da Barra, Tofo e Tofinho. A própria cidade de Inhambane, capital provincial, é um autêntico museu ao ar livre. A cidade preservou o seu estilo colonial, as suas cores e o reboliço do porto pesqueiro.

À terceira é de vez! Kruger parte III

Pois é, há 17 dias que não vinha aqui! Merecia um castigo! Mas o trabalho tem sido tanto que fui deixando o blog para trás… mas, estou de volta! 🙂

Ora bem, o post de hoje é sobre o Kruger National Park na África do Sul. O KNP ou simplesmente Kruger, é a maior área de conservação de fauna bravia da África do Sul, cobrindo cerca de 20 000 km2. Está localizado no nordeste do país, nas províncias de Mpumalanga e Limpopo e fazendo fronteira com os distritos moçambicanos de Moamba e Magude, na província de Maputo e Massingir e Chicualacuala na Província de Gaza. Tem uma extensão de cerca de 350 km de norte a sul e 60 km de leste a oeste.

Juntamente com o Parque Nacional do Limpopo, em Moçambique, e com o Parque Nacional Gonarezhou, no Zimbabwe, o Kruger faz parte da Área de Conservação Transfronteiriça do Grande Limpopo.

O nome do parque foi dado em homenagem a Stephanus Johannes Paul Kruger, o último presidente da República Sul-Africana bóer.

A minha primeira visita foi em Agosto, estávamos em pleno Inverno austral, época seca, e o Kruger estava amarelo. Não havia muita água, pelo que todos os animais se juntavam perto dos maiores rios para se poderem refrescar. Nessa visita fiquei instalado no sul do Parque em Berg an Dal. Vi leões!!! A grande atracção desta viagem! 🙂

A segunda visita foi em Novembro. O Kruger já estava mais verdinho, o que dificultou ver alguns animais. A grande atracção?! O leopardo!!! E muitos elefantes e girafas!

A terceira vez… a que me “obrigou” a escrever este post foi com a Mariana! 🙂 Já estamos no Verão, a época das chuvas, e isso deu para entender a verdura exuberante do Parque! Aliás, as chuvas têm sido tantas que uma das entradas do Parque (Crocodile Bridge Gate) – a mais próxima da fronteira com Moçambique – estava fechada! Para entrarmos por Crocodile Bridge temos de atravessar um rio e uma pequena ponte que foi construída para poder ser submersa pelas águas em caso de inundação. Mas desta o rio levou água em excesso e acabou por destruir a ponte… conclusão: tivemos de fazer mais 40 quilómetros e entrar por Melalane Gate!

Nestas duas últimas visitas fiquei instalado em Skukuza Camp. Skukuza é o maior centro de acolhimento de visitantes do Parque, oferecendo uma extensa escolha de tipos de acomodação, restaurantes e outros serviços de “recuerdos” que os turistas tanto gostam! 🙂

Aqui ficam algumas fotos e videos das minhas “caçadas” na savana!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na casa de… Malangatana!

Há coisas que às vezes nem percebemos que possam acontecer.

Há umas semanas atrás estava em Maputo e a Mariana, a voluntária que agora trabalha comigo no Orfanato, convidou-me para uma saída à tarde. A vida cultural em Maputo não é muito extensa, pelo que temos que aproveitar todas as ocasiões para uma saída!

Marquei às 15h na casa Museu do Malangatana” – confirmou-me a Mariana.

Visitar a Casa Museu do Malangatana é uma actividade que vem nos guias turísticos, pelo que não estávamos à espera da surpresa… A casa fica situada no Bairro do Aeroporto e, apesar de estar meio escondida numa ruazinha toda enlameada e com muitas poças de água, sem saída e sem qualquer tipo de indicações ao turista, toda a gente sabe onde mora o Malangatana.

Chegámos. Tocámos à campainha e apareceu um menino magrinho que nos deu as boas vindas. Não conseguimos deixar de comentar todo o toque artístico daquela casa. Tudo foi pensado pelo Malangatana, desde o azulejo das paredes até ao gradeamento dos portões!

Entrámos no ateliê… muitos quadros pendurados, outros par acabar… muitas latas de tinta no chão, livros, esculturas, jornais… uma confusão organizada! E na secretária um senhor. Grande, gigante, sentado esperava por nós.

Só nos apercebemos que estávamos a falar com o próprio Malangatana passados alguns minutos de amena conversa! Era ele! Era inacreditável o que estava a acontecer! O próprio Malangatana a falar em primeira pessoa para mim e para a Mariana. Um exclusivo!

Falámos, falámos, falámos… tivemos cerca de três horas com aquele senhor! Vagueámos pelas galerias, vimos as pinturas, as esculturas, os livros… voltámos para o ateliê, bebemos café.

Em quase três horas falámos de tudo, tudo, tudo menos de pintura! Falámos de tudo menos do que ele fazia.

No final, com um coração tão grande como ele próprio, agradeceu. Pensámos que tivesse sido apenas um simples agradecimento, mas não. No dia seguinte a Mariana tinha uma SMS no telemóvel dela onde o Malangatana voltava a agradecer, dizendo que aquela tarde tinha sido maravilhosa.

Ele ficou tocado com o nosso trabalho… afinal, ele já tinha sido uma criança como aquelas que ajudamos a crescer no Orfanato. 

“Muito obrigado meus amigos!” – Malangatana.

E para todos vós que perguntam quem é o Malangatana, digo-vos que é apenas o MAIOR artista de Moçambique! 

Malangatana nasceu em 1936 em Matalana, sul de Moçambique. Os seus primeiros anos de vida foram passados em Escolas de Missões e ajudando a sua mãe nos trabalhos no campo.

Com doze anos, Malangatana muda-se para Maputo (então Lourenço Marques) para procurar trabalho e em 1953 começa a trabalhar no Clube de Ténis como ‘apanha-bolas’. Este trabalho permitiu-lhe continuar a estudar, frequentando as aulas à noite. Foi nesta altura que o seu talento começou a ser notado. Augusto Cabral, membro do Clube de Ténis, forneceu-lhe os materiais e a ajudou-o a vender o seu trabalho. Em 1958 Malangatana frequenta o Núcleo de Arte, com o apoio do pintor Zé Júlio. No ano seguinte, Malangatana tem o seu trabalho exposto publicamente pela primeira vez numa exposição colectiva e, dois anos mais tarde, realiza a sua primeira individual com 25 anos.

Tornou-se artista profissional em 1960, graças ao apoio do arquitecto português Miranda Guedes (Pancho) que lhe cedeu a garagem para atelier. Em 1963 a sua poesia é publicada na revista ‘Black Orpheus‘ e na antologia ‘Modern Poetry from Africa“. No ano seguinte, Valente Malangatana é preso pela Polícia Secreta do Estado Português (PIDE) e passa 18 meses na cadeia, sendo acusado de ligações à FRELIMO (uma das facções que combatiam o regime colonial Português em Moçambique). Em 1971 recebe uma bolsa da Fundação Gulbenkian e estuda gravura e cerâmica. Desde 1981 trabalha exclusivamente como artista.

Malangatana foi agraciado com a medalha Nachingwea pela sua contribuição para a cultura Moçambicana e nomeado Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Expôs em Angola, Portugal, Índia, Nigéria, Chile e Zimbabué entre outros, e o seu trabalho está representado em colecções por todo o mundo. Trabalhou em várias encomendas de arte pública incluindo murais para a FRELIMO e para a UNESCO. Malangatana está também activo no estabelecimento de várias instituições incluindo o Museu Nacional de Arte e um centro para jovens artistas em Maputo. Foi também um dos fundadores do Movimento para a Paz.

O trabalho de Malangatana projecta uma visão ousada da vida onde há uma comunhão entre homens, animais e plantas. Baseia-se na sua ‘herança’ mas simultaneamente abraçando símbolos de modernidade e progresso, síntese entre arte e política. O reconhecimento do seu estatuto está presente na declaração proferida pelo Director-Geral da UNESCO, Federico Mayor ao entregar-lhe a distinção. Mayor nota que Malangatana é ‘muito mais do que um artista, é alguém que demonstra que existe uma linguagem universal, a linguagem da Arte, que permite comunicar uma mensagem de Paz.

FONTE: Contemporary Africa Database

Lourenço Marques 1970

Lourenço Marques em 1970.

Cada vez que visito Maputo consigo perceber melhor o que teria sido a cidade de Lourenço Marques. Imponente sobre o Índico, confluência de vários povos. Lourenço Marques, a cidade das acácias, fica para sempre marcada na memória de quem a visita.

Relatório da ONU afirma: “Colonialismo não pode continuar a ser o bode expiatório para o atraso de África”

Finalmente a ONU reconhece oficialmente que o Colonialismo não pode continuar a ser o bode expiatório para o atraso de África.

Na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, a decorrer em Setembro em Nova Iorque, o Secretário-geral da organização, o Sul Coreano Ban Ki-Moon, irá apresentar um novo relatório sobre África, o seu desenvolvimento e os seus desafios. Este novo documento, da autoria do Português Rodrigo Tavares, revela-se um novo olhar sobre África.

O Continente Negro enfrenta, como todo o mundo, a crise financeira e económica que abalou as mais fortes economias mundiais. Dependente da exportação de matérias-primas como as madeiras ou o petróleo, os países africanos estão a combater a actual crise com um custo muito superior ao dos restantes Estados. Pobreza, corrupção, má gestão, guerras civis, desemprego, violência e falta de unidade e consciência nacional são alguns dos muitos problemas que cronicamente afectam a maioria dos Estados de África.

Até há pouco tempo atrás, o Colonialismo servia de bode expiatório para todo e qualquer mal que África tinha. Não havia união nacional (jamais se poderia falar em Estados Nação como no Velho Continente) pois, às custas das políticas expansionistas das potências europeias, África tinha sido dividida a régua e esquadro. Não se podia falar em desenvolvimento económico pois as velhas potências não tinham criado as condições ideais para o desenvolvimento sustentado da população. Não se podia falar em muita coisa! O Colonialismo era a razão para todo o atraso de África!

Hoje o panorama é diferente! E hoje a ONU reconhece que o Colonialismo não pode ser mais usado como forma de desculpar todo o subdesenvolvimento de África.

É verdade que este tema continua a ser tabu em muitos países do continente e que, na realidade, o período colonial deixou feridas profundas que ainda hoje têm cicatrizes visíveis em quase todos os países. É verdade que o Colonialismo é reprovável e que teve consequências no desenvolvimento de muitas jovens nações. Mas, também é verdade que o Colonialismo já acabou. Acabou em 1994 quando a África do Sul reconheceu o direito à independência da Namíbia, mas, de facto, os últimos actos de Colonialismo tiveram lugar na década de 70 do século passado. A independência das 5 antigas colónias Portuguesas neste continente encerrou o processo de colonização em África. Desde então, as nações africanas ficaram por sua conta e risco. Não foi um processo pacífico: houve muitas guerras civis pelo meio, houve muitos golpes de Estado, houve muita propaganda e houve, também, muita má gestão.

Rodrigo Tavares, o autor do relatório, revela que é uma falta de respeito os líderes africanos acusarem sistematicamente as antigas potências pelo seu atraso: “É impensável criticar os antepassados coloniais relativamente ao que está a acontecer diariamente naquele continente. Isso negligencia a própria capacidade dos africanos de serem responsáveis pelos seus actos, é uma desconsideração“, afirma a investigador.

Nem mais, os Estados Africanos e os seus líderes deixaram de ter no período colonial a desculpa para a sua situação actual. E, não é a primeira vez que este tema vem às luzes da ribalta. Recentemente, Lula da Silva, Presidente do Brasil, e Barack Obama, Presidente dos EUA, afirmaram esta mesma ideia em deslocações a alguns países africanos.

São os próprios africanos – adoptando muitas vezes discursos vitimizadores que culpabilizam o colonialismo como raiz de todos os seus problema – que patrocinam o assistencialismo. Sem ajuda da União Europeia, a União Africana dificilmente teria condições para continuar a exercer as suas funções

Apesar da oficialização desta ideia por parte da ONU ser a grande novidade do relatório, e reconhecendo que tal não será bem recebido por muitas elites africanas, pois de certa forma vai ao desencontro da ideologia defendida por alguns líderes africanos, nem todo o panorama apresentado é baseado nesta nova perspectiva. A par da actual crise, que tanto tem afectado África – só para se ter uma ideia, o relatório prevê 28 milhões de desempregados em 2009, 110 milhões de cidadãos na pobreza total, 44 milhões de pessoas subnutridas além de uma descida abrupta Investimento Directo Estrangeiro – em África ainda acontecem milagres: o crescimento económico, com excepção neste período de crise, tem mantido em média uma subida superior a 5% ao ano; houve uma diminuição dos conflitos internos e a percentagem de crianças a frequentar a escola tem subido consideravelmente. Alguns Estados Africanos têm prosseguido com excelentes políticas de boa governação (vejam-se os casos da Namíbia, Botsuana ou Cabo Verde).

Mas, se a ajuda internacional continuar a baixar como tem acontecido até ao momento, os “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio” jamais poderão ser alcançados. Tal como diz o investigar autor deste novo relatório, a Europa tem um papel fundamental em todo o processo de desenvolvimento de África. Pondo desde já de lado a questão do Colonialismo, “a Europa está apenas a 20kms de distância” de África e, além disso, há uma encruzilhada histórica que liga e ligará os dois continentes. Aos muitos interesses encómicos europeus na região, sempre houve uma atenção especial com África (especialmente de países como Portugal, a Inglaterra ou a França). A Cimeira Europa – África (organizada sempre por iniciativa de Lisboa) é um dos exemplos que põe África no topo das prioridades de desenvolvimento humano dos europeus.

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Este post baseou-se nas reportagens do “Expresso” e do semanário moçambicano “A Verdade”

O Dia da Independência

retirado de A. SOPA (coord.) (2001), Samora. Homem do Povo, Maputo, Maguezo Editores

Dia 25 de Julho celebrou-se a Independência de Moçambique. Um dia carregado de simbolismo, pois foi esta a data estabelecida nos Acordos de Lusaka de 1974, na Zâmbia, como o dia em que Lisboa passou a reconhecer oficialmente a independência de Lourenço Marques e o fim da África Oriental Portuguesa. Curiosamente, 25 de Julho é, também, a data da fundação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o movimento independentista a quem o Governo foi entregue em 1975.

Para alguns o processo de independência é descrito como o “possível de se efectuar tendo em conta os desenvolvimentos da época”. Para outros, o processo devia ter tomado outro rumo. É verdade que em 1975 o Governo Português não tinha grande espaço de manobra para liderar um processo de transferência gradual de independência, mas estou certo que se houvesse interesse de todas as partes em que a troca de soberania tivesse tido cabeça, tronco e pés, hoje Moçambique seria um melhor país. Bastava fazer o que foi feito com Macau. Aí, o processo de transferência de soberania seguiu um plano elaborado e faz hoje de Macau um paraíso na Ásia.

Aqueles que receberam o poder no pós-25 de Abril em Moçambique souberam manobrar muito bem a História. A História que hoje os meninos e meninas aprendem é, podemos dizer, alterada. Há formas de contar uma história de forma imparcial. Apenas relatando os factos! Há outras em que a História é reescrita de forma a glorificar ou perpetuar uma determinada imagem negativa de algo. Guerra Colonial e Guerra de Libertação,  nomes diferente para a mesma guerra,  são um perfeito exemplo disto!

Foi impossível não reparar na propaganda que os principais jornais de Moçambique publicaram das edições do dia 25 de Julho. À propaganda política somavam-se os habituais “Parabéns Moçambique… fazes 34 anos (!)”. Coisa estranha para mim, pois nunca vi ninguém a fazer isto em Portugal. “Parabéns Portugal, estás velho, vais fazer 900 anos (!)” é algo que não ouvimos pois temos em nós um espírito de unidade que, pela lógica histórica, Moçambique ainda não partilha. Nesta mescla de etnias e línguas que é Moçambique, e à qual quase nenhum país africano escapa, a “livre circulação” de pessoas e mercadorias começa apenas agora a ser uma realidade. A nova Ponte sobre o Rio Zambeze, considerada a maior obra pública em Moçambique desde a independência, é apontada pelos políticos moçambicanos como o elo que faltava para a ligação interna do país. Mas, o caminho faz-se caminhando e não há dúvidas que em Moçambique as coisas não caminharam tão bem como “eles” queriam. É obvio que as diferenças continuam a existir e continua a ser impossível afirmar, praticamente em todas os campos, que agora Moçambique está melhor!

Força Moçambique!

Viva Moçambique!

Saudosismo, esperança ou conservadorismo?!

Bandeira de MoçambiqueHoje tive uma conversa muito interessante.

No pátio da casa do Sr. Xavier, antigo director da Escola Secundária de Chókwè, trocamos algumas frases, algumas histórias e muita História!

O Sol ia já dando lugar à Lua quando bati à porta daquele que até há poucos dias seria o meu vizinho da casa. O Sr. Xavier é professor de História,  disciplina que eu tanto gosto, e tem, como muitos Moçambicanos, um carinho especial por Portugal.

Ele contou-me como era a vida quando os Portugueses administravam o território de Moçambique. “Eram tempos diferentes, onde os Portugueses eram vistos como um povo trabalhador” iniciou o Sr. Xavier. Num misto de saudosismo, a conversa foi-se alongando. Ora ele levantava questões sobre o Portugal de hoje, ora eu perguntava coisa da História “destes dois povos”!

Assume-se como um Moçambicano orgulhoso, mas não pode deixar de se lembrar de como as coisas eram administradas noutros tempos. Explica o Sr. Xavier  que o colonialismo Português destaca-se dos demais pela forma como a população branca e negra interagia. “Havia uma separação, é claro, uns eram brancos, civilizados e europeus, outros eram negros” – concretiza o senhor professor, mas a verdade é que a miscigenação entre Portugueses de Portugal e Portugueses de Moçambique (se assim pudéssemos classificar os nascidos nos territórios da África Oriental Portuguesa na altura!) era muito grande, o que, de facto, fazia a distinção entre o colonialismo Português e o colonialismo Francês, Belga ou Inglês.

Ele mesmo, apesar de negro, diz que não pode esquecer que desde a nascença tinha o estatuto de “assimilado”, daí toda a sua educação ser “branca”. “Não comia na mesa dos Senhores [brancos], mas vi muitas vezes essa mesa e comi o que eles comiam também” esclareceu o Sr. Xavier.

Não quer passar a ideia saudosista do Império Português, nem da sua colonização, mas recorda os bons momentos que viveu com os seus colegas de turma brancos, da História de Portugal, do estilo de educação, dos escuteiros (o que ele realmente não apreciava!!!) e, repetitivamente afirmou, “da forma como os colonos brancos eram trabalhadores”.

Havia excessos, é claro, mas excessos sempre houve e esses não são desculpa para certas atitudes. Quando Moçambique se tornou um Estado independente o Sr. Xavier deixou de ser Português e passou a ser um Moçambicanos com todos os direitos e deveres! Não havia estatuto de civilizado, branco, negro ou assimilado. Mas, como em todas as revoluções há excessos, excessos que só mais tarde são rectificados. A forma como os Portugueses tiveram de abandonar o território, perdendo praticamente todos os seus pertences, é um desses excessos! “A minha mãe sempre disse que a forma como os Portugueses saíram de Moçambique não era correcta. O povo estava cá para trabalhar, e se por ventura conseguiu fazer fortuna ou se tem alguns bens de valor, tem todo o direito de os levar para a sua terra. Deus não permite tal impunidade. Se são homens de bem, mais tarde ou mais cedo serão recompensados”. A frase é grande, mas ficou gravada minha memória tal foi a forma como o Sr. Xavier a disse. Na realidade, os Portugueses estão a voltar aos poucos e a reaver, quando possível, alguns pertences que o tempo da história ainda não apagou!

A Guerra Colonial em Moçambique não foi contra os Portugueses. Foi contra os políticos e as suas políticas, contra o regime e contra a mordaça! “O 25 de Abril foi uma bênção!” exclamou o Sr. Xavier. Mas tudo o que veio depois foi uma desgraça! Não houve período de transição de poder que fosse suficiente para deixar os Portugueses sair e os Moçambicanos ocupar os lugares vagos! “Tudo foi feito à pressa: as gentes do campo vieram para a cidade, os campos de cultivo foram abandonados, muitas habitações, fábricas e infra-estruturas básicas foram destruídas. O caos!!!” Depois veio a guerra civil. Não se percebia muito bem o porquê daquela guerra. FRELIMO e RENAMO lutaram pelo poder. Só em meados dos anos noventa a guerra teve oficialmente um fim.

Hoje, Moçambique é uma jovem democracia, um país em “estado de construção” permanente que assiste a uma explosão demográfica. De pouco mais de 9 milhões de habitantes em 1975, hoje o território conta com mais de 20 milhões de habitantes. O crescimento populacional foi realmente explosivo, mas tudo o resto permaneceu num estado de puro ralenti. A economia não acompanha as necessidades da população; a agricultura de subsistência continua a ser a base desta frágil economia; os índices de pobreza, desenvolvimento, esperança média de vida, mortalidade infantil e alfabetização são dos mais baixos de todo o mundo. O Governo de Luísa Diogo cose, como diz o Sr. Xavier,  pelas agulhas do FMI. A África do Sul, grande potência do continente, continua a estender os seus tentáculos pela economia dos países vizinhos, e Moçambique não é excepção!

Mas, para Moçambique ainda há esperança! “Esta nação jovem há-de dar a volta por cima…” foi assim, com esta expressão cheia de moçambicalidade [há-de… hei-de…!] que o Sr. Xavier concluiu a sua “aula”.

Aquele brilho que Lourenço Marques tinha

Maputo: Avenida 24 de JulhoPor momentos parece que recuei no tempo!

 

Lourenço Marques, 1960…

 

A capital de Moçambique é uma cidade completamente diferente do resto do país. Imagino o que teria sido no período colonial.

 

Maputo de hoje herdou esses traços de cidade moderna, cosmopolita e africana. O planeamento da cidade deixa muitas cidades europeias cheias de inveja. Avenidas largas, praças e jardins, filas de árvores, passeios largos. A cidade era preenchida por edifícios altos, muitas vezes com mais de 15 andares, o que lhe dá um ar jovem e muito urbano. Localizada junto a uma longa baía, a cidade estende-se ao longo de uma marginal ladeada de palmeiras e praias de perder de vista. Há 40 ou 50 anos atrás, Lourenço Marques era, sem dúvida, uma cidade com uma qualidade de vida muito boa. Geometricamente desenhada, tudo parece ter sido estrategicamente posicionado. A arquitectura colonial mistura-se junto ao porto com as alturas e traços dos prédios dos anos 60 e 70. Tirando as referências óbvias a Portugal, a cidade não tinha nada que a identificasse com as cidades da velha metrópole.

 

Entrada do Mercado Municipal de MaputoHoje, o espírito da cidade continua vivo, mas a guerra e o desleixo deixam a cidade com uma cara muito feia. Cicatrizes profundas que assustam qualquer um!

Maputo, capital da República de Moçambique, cidade com mais de 1,5 milhões de habitantes, é rodeada por uma mar de casas de palha, barracões e um trânsito infernal. As avenidas mudaram de nome. Os prédios de arquitectura vanguardista para a época em que foram construídos estão hoje ao abandono ou, então, num estado de degradação impressionante. A estrada marginal, que nos leva do interior da Baia de Maputo para o exterior da cidade, não passa hoje de uma estradeca subaproveitada.

Infelizmente, os habitantes da cidade não souberam preservar o esplendor que a cidade tinha. Lixo nas ruas, trânsito descontrolado, um péssimo sistema de transportes colectivos, peões com pouco civismo…

À mistura encontramos o oposto! Como em qualquer cidade do mundo, há sempre uma parte reservada aos mais ricos e poderosos. A zona central, com muitos cafés e restaurantes encontra-se minimamente apresentável. A comunidade de expatriados é grande, mas os pontos de encontro são sempre os mesmos. Há alguns clubes algo elitistas onde é difícil encontrar um cidadão moçambicano que esteja do lado de fora do balcão! Um desses clubes, um bar para ser mais concreto, está localizado precisamente no interior da estação de caminhos-de-ferro de Maputo. Um edifício com uma arquitectura colonial de se lhe tirar o chapéu, provavelmente uma das mais bonitas estações de comboios do mundo, onde é possível beber uma Manica (cerveja), ouvir boa música e ver os comboios passar! Um outro local de encontro da comunidade estrangeira, especialmente da extensa comunidade Portuguesa, é o Clube Naval. Junto à Baía de Maputo, com vistas espectaculares para a Ilha de Ilhaca e para o Índico, este é o clube da “crème de lá crème” da comunidade Lusa em Maputo.

Ao entrarmos na zona das embaixadas mais parece que estamos a abandonar Maputo. As avenidas continuam a ser largas, mas o trânsito diminui, o lixo desaparece e jardins de palmeiras dividem as faixas de rodagem. Realmente bonito!

 

Maputo está agora numa lenta transição. A mistura entre as bancas do mercado municipal, verdadeira jóia da arquitectura portuguesa, e as lojas do moderno, mas de gosto discutível, Maputo Shopping Centre, é sinónimo da transformação que se alastra pela cidade.

Uma outra coisa que qualquer estrangeiro irá notar ao circular em Maputo é a influência da ideologia comunista na cidade. Vladimir Lenin, Mao Tzé Tung ou Kim Il-Sung são nomes dados às principais avenidas de Maputo! O brasão de armas de Moçambique é, pasmem-se (!), uma réplica dos usados pelas ex-Repúblicas Soviéticas!

 

Ontem foi dia 25 de Abril… há muitos anos atrás, numa revolução que afinal foi um golpe de Estado, os dados da História definiram o futuro desta magnífica cidade. Daqui a menos de 2 meses festeja-se o dia da independência de Moçambique, o dia em que Lourenço Marques passou a designar-se oficialmente como Maputo, o mesmo nome do rio que desagua na baía da cidade.

 

Passaram 35 anos. A cidade mantém-se sobranceira ao Índico, mas perdeu aquele charme dos tempos idos. As paredes estão escuras, o chão está sujo. É preciso renovar esta cidade. É preciso limpar a cidade e trazer de volta aquele brilho que Lourenço Marques tinha!

 

Depois de Maputo tenho de ir visitar a grande cidade da Beira, mil e muitos quilómetros a norte da capital…

 

Em Maputo, 26 de Abril de 2009


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