Se eu quisesse entrar em pânico não conseguia!
Ia na estrada, já noite, no meio do nada, na escuridão total quando um dos pneus do meu carro rebentou. Nos breves segundos em que ouvia o pneu a esvaziar-se e o carro a querer fugir para a berma, só me apetecia fechar os olhos, abri-los e estar em Portugal. Estar na minha casa, no meu carro, no meio da civilização!
Em Moçambique não existe assistência em viagem o que torna as coisas complicadas. Mudar um pneu a um carro médio é fácil…agora trocar uma roda a uma carrinha 4×4 é uma coisa com muita técnica!
Por breves instantes fique com o carro ligado, imobilizado no meio daquela estrada escura, os máximos ligados e as duas mãos no volante. Estava a uns míseros 10 quilómetros da Praia do Bilene, uma pequena localidade balnear, onde um Italiano e uma Portuguesa me esperavam para jantar.
A minha reacção foi ligar-lhes e confirmar que as portas do carro estavam trancadas.
Andei um pouco, mas o barulho do pneu desfeito a bater no alcatrão não me deixou andar muito mais. Os 20 minutos que eu esperei pelo Aldo e pela Andreia pareciam horas que nunca mais acabavam.
De repente, surge do nada um senhor que logo se ofereceu para me ajudar. Eu só vi uma mão a bater no vidro do carro. Não sei de onde me veio a coragem para sair do carro e falar com ele. Entretanto a minha “assistência” chegou e tentamos perceber o que se tinha passado. O pneu que tinha rebentado estava completamente careca na parte de dentro da roda. Rebentou! Bummmmmm….
Tentamos andar mais uns metros mas, aquele barulho era insuportável.
Tal como um quilómetro atrás, apareceram vindos do nada uns senhores. Quiseram ajudar. Quiseram tirar o pneu… não conseguiram! Quiseram tirar o pneu sobresselente… também estava furado… mais azar?! Só se aparecesse um leão e me comesse!
Depois de algumas horas à volta do pneu, do macaco e da jante resolvemos partir. Não havia outra opção se não conduzir o carro pelos 9 quilómetros que faltavam.
“Alberto, já tinhas passado por uma situação semelhante?!” – perguntou-me o Aldo no seu português mesclado de italiano. “Não!!!” – foi a minha resposta. Confesso que ainda não sei onde fui buscar coragem para negociar com aqueles homens todos quanto lhes iria pagar por me ajudarem. O Aldo ainda agora não acredita que eu tive sangue frio para enfrentar a situação ao longo de 4 horas sem demonstrar um pouco de medo. E se a início tudo parecia bem, já perto do fim os ânimos exaltaram-se um pouco quando perceberam que nós já não queríamos a ajuda deles! Eu também não sei de onde fui buscar tanta força!
Chegamos ao Bilene a passo de caracol e com algumas paragens pelo meio por causa do cheio a pneu queimado. O carro ficou em frente ao primeiro hotel que vimos. Já não havia forma de o levar até à casa onde passaríamos a noite.
O jantar às 22.30h não me soube a nada e, embora estivesse a dois passos do mar, mesmo em cima da areia, nunca me apeteceu tanto sair da praia e voltar para casa. A noite passeia-a toda em branco…
No Domingo de manhã fomos arranjar o pneu. No Bilene não há oficina nem reboques. O máximo que encontramos foi uma bomba de gasolina onde faziam pequenas reparações. Pneus novos não existiam. Andaram à procura de um pneu já usado que ainda estivesse em condições para ser usado. Encontraram um, mas eram preciso dois!!! Enquanto arranjavam o pneu consegui ir à praia. Uma lagoa lindíssima, de águas calmas e bem quentes. Mas a ideia do pneu não me saia da cabeça e nem da beleza e calma do local desfrutei.
Quando acabamos de almoçar o pneu estava pronto.
“Tem de chegar à Macia e comprar pneu novo” – disse o senhor das bombas. Por sorte, o estabelecimento vizinho onde almoçámos era gerido por um casal de Portugueses que se aprontaram a olhar pela situação e não deixar que fossemos “roubados” no preço final.
No final, esta brincadeira fez sair do meu bolso 1300 meticais (aproximadamente 37eur). Por um pneu e pelos “refrescos” (o nome que se dá em Moçambique ao suborno e gorjetas) até que ficou dispendioso, mas era a única opção.
A passo lento partimos em direcção à Macia, a cidade que fica na estrada principal que liga Maputo ao Xai Xai e onde fazemos o corte para Chókwé. Na Macia também não havia pneus disponíveis. Continuei por mais 60 quilómetros até ao Chókwé.
Finalmente cheguei a casa. Como o Aldo e a Andrei me disseram “This is Africa!”.
Aldo e Andreia, o meu eterno obrigado! Se não fossem vocês nem sei o que teria sido de mim! OBRIGADO!
Para primeiro baptismo africano não está mal, pois não?!
No Chókwé, 19 de Abril de 09